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Circunstâncias de um rio parado


É engraçado, né? Como as coisas perdem sentido.

Sem ela é tudo tão... Sei lá. Olhar pra parede ou olhar pro teto são as coisas mais interessantes que tenho feito. Eu digo pra mim mesmo que tá tudo bem (e ás vezes realmente está), mas todo tempo na minha casa é isso. Um grande tédio. Uma grande espera pra próxima vez que eu vou sair daqui.

Eu não quero jogar. Eu não quero tocar. Eu não quero respirar.

Eu só espero. Só espero pelo próximo momento livre dessa angústia, pelo próximo momento em que eu vou me distrair, acreditar que vou achar um sentido pras coisas.

É engraçado, né? Com ela, não tinha isso.

Todo ócio era preenchido por uma lembrança gostosa. Uma nova cantada que a faria sorrir, um carinho que esqueci de dar e me prometia entregar quando a visse novamente.

Nas paredes, projetavam-se minhas memórias. Em noites sem sono, a memória do seu calor me acalentava e me fazia dormir.

Sinto como se tivessem anos que o sono não me é agradável. São apenas oportunidades para sonhar com ela. Sonhos tristes, que eu não posso parar quando quero.

É engraçado, né? Sem ela, as coisas parecem mais simples.

Tenho surtos de empolgação, momentos de mente limpa que me permitem aproveitar a vida. Mas acabo voltando pra cá. Pra ausência. Não é saudade, mas tem algo faltando.

Eu não sinto a falta, mas meu espírito sente. É estranho se sentir desconectado da própria alma, mas é como tenho vivido.

"Saiba que eu sonhei com medo e não duvido que não estar contigo seja mais livramento que amor perdido."

É como realmente tenho vivido.

Eu sinto falta de um propósito. Sinto falta de ser grato. Sinto falta de me conformar. Sinto falta de amar.

Eu sinto falta de sentir.

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